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quinta-feira, 23 de outubro de 2025

 

      SÉTE DECADAS.

Algum de vocês que já passaram dos setenta anos, lembra de como foi e como viveu cada década da sua existência, tem alguma lembrança de como foi sua vida, sua luta e da sua família? Por incrível que pareça eu me lembro, ok não antes dos seis anos, mas tem muitas coisas que me lembro muito bem, exemplo; a pobreza era grande, mas quem se incomodava com isso, pra gente era normal, lembro que até uns seis anos, a minha roupa era só calcinha e pé no chão, com uns sete anos, já nos vestíamos risos, como minha mãe tinha uma irmã que tinha uma vida melhor e suas filhas eram mais velhas, ela dava as roupas que já não servia e nossa mãe muito antenada e prendada, ela tinha aquela máquina de pé do tempo do ronco e ela mesma reformava e fazia nossas roupas.

Nossa infância, foi difícil, foi, mas contávamos com nossa inocência, ingenuidade e simplicidade, onde nós mesmo inventávamos nossas brincadeiras, sabe como? No sitio tinha muita pedra, então com as folhas do coqueiro, usávamos inclusive onde ficava os cocos, dava até pra pular, então fazíamos escorregador, não vou dizer que não era perigoso, mas era gostoso, fazíamos pernas de pau com bambu, nós colocávamos um pau, furávamos uma madeira no meio e fazia balanço, uma criança de cada lado, enfim aproveitamos como podíamos, agora loucura era os banhos em rios correntes e cachoeiras era bem perigoso.

Pois é, nem nos meus sonhos eu imaginava o que existiria, ou viria quando eu fizesse doze anos, foi quando comecei ir para a pequena cidade de Itapetim Pernambuco, agora a melhor festa, foi com treze anos, na inauguração da luz elétrica na cidade, para mim foi o melhor presente, lembro até hoje do meu vestido, tubinho, feito de um pano chamado pele de ovo, ai vieram  as festas do padroeiro, são Pedro, era como viver um sonho, e, quando pela primeira vez fui ver um baile de carnaval no pequeno salão naquela cidade, nessa época eu já estudava na cidade, indo e vindo do sitio todos os dias, aos catorze anos já passava até três dias na casa da minha avó materna.

Teve algo inesquecível nunca esqueci, na festa de são Pedro eu andando com uma amiga do sitio, a coitada acho que era seu primeiro sutiã, um cara olhou bem pertinho e falou ó bicho bicudo, eu nunca ri tanto na vida.

Outra coisa, como sempre, a água no sertão pernambucano era escassa, então pra não sujar, nem quebrar o chinelo havaiana, íamos descalço para cidade e na minha vó paterna, toda vez era uma guerra quando eu ia lavar os pobres pês.

Nossa vida era sofrida já que éramos adolescentes, e, na cidade já víamos a diferença, as mocinhas da cidade nos olhavam de cima pra baixo, porque sempre existiu orgulho e óbvio o desprezo com a pobreza, no sitio não víamos a diferença, agora quando com dezesseis anos nos mudamos para bela cidade, foi que fui ver o quanto o povo do mundo era cheio de injustiça e maldade.

Joana Darc N Araújo a Ferreira    

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