SETE DECADAS.
CONTINUAÇAO
Todos nós sabemos que o preconceito
sempre existiu e não só com a cor da pele, ainda mais com a pobreza e os mais
humildes, eu não sei porque carga d’água, sempre existiu esse sentimento tão
mesquinho, os que tinha o nariz em pé, talvez tivessem uma vida igual a nossa,
mas o povo sempre foi assim, porém, como já contei, eu só fiquei um ano na
cidade de Itapetim Pernambuco passando vergonha, cabisbaixo, mesmo acreditando
que ninguém era melhor.
Pra mim melhorou, quando fiquei um ano e
quatro meses em são Paulo, voltei bem mais segura e dona de mim, comigo a lei
era, bateu levou, não ligava pra mim eu fazia pior, foi dessa maneira que mesmo
morando no centro da cidade e na casa mais feia sobrevivi; passei a fazer tudo
que minhas irmãs não queriam fazer, como ir à padaria, mercado, enfim, não olhava
pra ninguém, queriam ser melhores que eu? Então lá vamos nós, mas aí a coisa
melhorou quando voltei pra são Paulo e voltei um ano e quatro meses novamente, daí
eu fui viver do jeito que teria que ser, como todos os jovens, rindo, feliz,
aprontado e sempre com uma resposta na ponta da língua, até hoje é assim,
quanto mais você deixa mais algumas pessoas montam.
Agora
eu escolhia minhas amizades, não gostou? Dane-se, sabiam que eu era invejada? Quando
eu arranjava namorado, algumas moçoilas iam tentar convencer meus pretendentes
que eu era muita namoradeira, depois os caras me contavam risos. As vezes até
quem eu imaginava ser amiga faziam boicote comigo.
Essa
é a vida até hoje, o mundo é dos mais fortes, apesar que na nossa época tinha
mais discrição, mas graças a Deus, tinha quer ser, em 1976 eu vim embora de vez
de Itapetim sertão de Pernambuco, isso com vinte e três anos, apesar de não
saber o que queria, uma coisa eu sempre tive certeza, eu não queria viver
naquela cidade para sempre, os melhores anos e de muitos jovens que sabem viver,
é de dezessete anos até vinte e três anos.
De coração; eu vivi
meus melhores anos naquela cidade encantadora chamada Itapetim Pernambuco,
apesar dos prós e contras, eu tive momento maravilhosos e inesquecíveis, quisera
Deus, existisse mais pessoas da minha idade, que elas tivessem tido a chance de
viver intensamente como eu vivi e hoje não ter arrependimentos, melhor ainda
ter memória boa e lembrar.
Eu sinto muita pena, vejo pessoas da minha idade tão
amargurada, revoltada e segundo algumas nunca souberam o significado da palavra
felicidade, divertimento e o que foi viver intensamente, pode ser bobagem as
lembranças e o que escrevo, mas eu me sinto bem escrevendo e sabendo que tive
uma vida e hoje posso dizer a quem quiser ler minhas histórias, eu fui feliz.
Não existe nada mais gostoso que você escutar uma música e
dizer; nessa época eu estava em tal lugar, ou namorando alguém, num baile, mas
ter certeza que foi feliz e ter do que lembrar, agora se você que não tem
memória nem boas lembranças com certeza você não viveu, foi o mesmo que beber,
ou se drogar e passar pela vida como um verdadeiro zumbi, portanto não sinta
vergonha de escrever e falar do passado, deixem te chamar de museu, de
saudosista, esqueça os outros e saiba que você viveu e ainda está aqui contando
suas histórias de vida, não se envergonhe, quem não lembra de nada é porque não
teve vida, ou não viveu nada.
Joana darc n Araújo A Ferreira