VOCE
QUERIA VOLTAR A SER CRIANÇA?
Você queria
voltar ao passado, ou lembra do que viveu? Apesar das lutas, sofrimento e dificuldades,
alguém pensa e sonha de como viveu? Eu digo voltar, mas lembro-me muito dos
anos sessenta, mas vivi algo no final dos anos cinquenta que marcou, eu vi meu
primeiro eclipse, mesmo os adultos falando uns pros outros que o mundo acabaria,
como ficar com medo se eu tinha só seis anos? Outra coisa, como dormíamos em
casa de taipa e baixa sempre via uma cobra andando nas telhas, eu morria de
medo.
Lembro-me que amava
tomar banho de chuva, correr e pular em rios ou lagoas, apesar da pobreza, não
existia tempo ruim, nunca cansava, muito menos reclamava de nada, eu não
entendia se existia uma vida além do que nós vivíamos naquela sitio. Fogão a
lenha, nada de moveis em casa, tudo era limitado, a nossa diversão era brincar
de matar, com uma bola de pano, (jogo de queimada) academia (amarelinha) já
maiorzinha nossa diversão, era ir à casa dos nossos vizinhos brincar de passar
anel, isso já com doze anos, criança acha tudo novidade.
Eu achava o máximo, ir
à cidade e comprar um rolete de cana, alguém sabe o que significa? Isso tendo
muita cana no sitio. Pra mim um fato inusitado e assustador, foi quando escutei
o barulho e mesmo pequeninho vi um avião, depois vi o primeiro caminhão, foi
bizarro, já tinha visto jipe quando íamos pra rua, nosso transporte era carro
de boi ou cavalo, do sitio a rua era uns vinte minutos a pé, cidade, Itapetim Pe:
Radio não sabia nem o que era, até que o vizinho comprou um,
foi a maior novidade. Bom para todos nós quando nos mudamos para pequena cidade
Itapetim, foi uma alegria, na rua poucos tinha radio, então fazíamos nossas
próprias diversões e brincadeira, quem precisava de rádio, quando existia uma
difusora no colégio das sete as dez da noite com muita música.
Há! Sempre vinha um
circo para cidade, íamos por não ter outro divertimento, era pior que a
encomenda, mas com certeza tinha gente que gostava. Era uma vida muito sofrida,
simples, porém eu vivi momentos inesquecível.
Eu particularmente preferia ficar feito Peru, (rodando) quer
dizer dando volta na praça flertando, como se dizia na época, ver novelas pra
quer? A bendita televisão, no final dos anos sessenta, quem podia já tinha, mas
as abençoadas chuviscavam mais que a garoa de são Paulo, era raro vermos uma
imagem, dava medo, os artistas eram magros demais, ou gordos, horríveis.
Os endinheirados compravam uma vitrola e Lp com música boa,
quer dizer popular brasileira, com muito Roc, daí faziam assustado na casa de
alguém, era bem divertido.
Tanto no sitio como na cidade a lasqueira (pobreza) nos
acompanhou, quer dizer nossa geladeira era um pote, o congelador um varal e o
sol, se não como comer carne? Guara roupa, uns baús do tempo do ronco, camas
quem tinha, o colchão era de capim, a maioria dormia em redes, na cidade fogão
de carvão, era melhor do que a lenha, na sala cadeira de madeiras, na época,
muitas casas, a chave era um ferrolho ou um pano.
Nós estudávamos a noite, mas no intervalo que era de vinte
minutos ficávamos na praça, era só felicidade, o colégio era no centro da
cidade, nas cidades pequenas inclusive a minha, a praça, no final de semana se
transformava em festa, de sete horas até onze da noite, os jovens se
encontravam.
Se eu fosse contar tudo que vivemos escreveria muito mesmo,
mas tivemos sim, uma juventude sadia, feliz, com animação e muita simplicidade,
mesmo nos faltado quase tudo, nós fomos felizes.
Joana Darc Nunes de Araújo Alves Ferreira.
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